100 dias de governo Milei: entre derrotas no Congresso, ajustes na economia e popularidade, como vai a experiência libertária na Argentina?
Nos primeiros cem dias, governo cortou despesas e conseguiu recompor reservas internacionais. Também sofreu derrotas duras no Congresso, mas mantém popularidade entre os eleitores
Senado da Argentina rejeita pacote de medidas de Milei
Javier Milei completou nesta segunda-feira (18) cem dias na presidência da Argentina. Nesse período, ele usou as redes sociais de forma frenética e fez um forte ajuste fiscal com corte de despesas. Seu estilo confrontador e a altíssima inflação, em parte herdada do governo anterior, tornaram mais tenso o clima político e social no país.
Ao mesmo tempo, o novo presidente reconstruiu as reservas argentinas e alcançou um superávit fiscal sem precedentes. O principal lema dos cem primeiros dias foi "no hay plata" (não há grana), justificativa para o corte de gastos e restrição de subsídios para tirar as contas públicas do vermelho.
"(Os cem primeiros dias) trouxeram bons resultados para a economia. Ele (Milei) conseguiu conter a hiperinflação bem abaixo do projetado", avaliou economista Roberto Luis Troster, ex-economista-chefe da Federação Brasileira de Bancos (Febraban) e o doutor em economia pela Universidade de São Paulo (USP).
Veja abaixo quais foram os principais acontecimentos na Argentina nesse período.
Derrotas no Congresso
O plano de Milei para desregulamentar a economia argentina iria ser concretizado por duas leis:
Um "decretaço", uma espécie de medida provisória, que revoga ou modifica mais de 300 normas da administração pública argentina.
Um projeto de lei batizado de lei "ómnibus", que em sua versão original continha mais de 600 artigos.
Os dois projetos sofreram derrotas no Congresso, onde o partido de Milei é minoria. A lei "ómnibus" foi retirada de pauta na Câmara dos Deputados, e o megadecreto foi rejeitado no Senado (o texto ainda está em vigor até ser votado pelos deputados).
Milei mantém boa popularidade: uma pesquisa da Opina Argentina apontou que ele tem imagem positiva para 52% dos entrevistados; o índice está estável desde o início do mandato, em dezembro.
Essas derrotas no Legislativos, no entanto, mostram que o presidente não conseguiu usar sua popularidade para forçar os deputados e senadores a votarem como ele quer e nem negociar com o Legislativo.
"Milei está escolhendo a estratégia do confronto, e isso não funciona bem nem na Argentina, nem no Brasil, nem em nenhum lugar. Ele está se impondo agora, mas logo terá que ceder", afirmou Troster.
"Milei gostaria de promover o seu projeto político e econômico a 100 km por hora, mas a velocidade de cruzeiro do governo é muito menor", disse Carlos Malamud, principal pesquisador do Real Instituto Elcano.
Agora o seu programa está nas mãos dos deputados, que devem revisar uma versão diluída da lei "ómnibus" e tomar a decisão final sobre o "decretaço", que permanece em vigor a menos que seja rejeitado também na Câmara dos Deputados.
Mas mesmo se o texto for aprovado, há processos na Justiça que questionam a constitucionalidade da medida. O consultor político Carlos Fara disse que na Justiça, boa parte do decretaço "está mortalmente ferida".
Fonte: website g1